Neste início de fevereiro, exatamente no dia 1, fez aniversário aquele que introduziu em nossa família esta paixão chamada “televisão”. Luiz Francfort, um garoto que descobriu um mundo mágico na sua frente ao ver as tecnologias daquela televisão que havia nascido a pouco. Uma televisão surgida da força dos profissionais do rádio, dos jornalistas, dos teatrólogos e das famílias circenses, músicos, além dos jovens ‘aventureiros’ que mal sabiam o que era o meio, mas queriam explorá-lo. E o conjunto disto tudo, desta mescla, é o que compõe a caixinha de ilusões, companheira de todos nossos dias.
E é destas raízes que aqui falaremos, da genealogia da televisão – sobre os pais e os avós desta criação. Vamos viajar pelos tempos? É hora de voltar ao século XVI.
Caramuru! Caramuru!
Eis aqui o primeiro tipo de comunicação na minha família… Nos mares da Bahia, a caravela de Diogo Álvares Correia naufraga, em 1510, e aí, este português consegue chegar até a praia. Imaginem alguém totalmente perdido, fora de sua própria terra, pisando num solo onde só se vê mata e…e…índios!!! Foi isto que o náufrago viu. Diogo mal sabia no que tinha se metido.
A tribo do Cacique Taparica o encontrou e assim, Diogo, começou a fazer a primeira grande comunicação de minha família em solo brasileiro. Tentou gestos, mas nada aconteceu. Os índios não recuavam e iam avançando para cima do português. Ele não pensou duas vezes e seguiu o arcáico lema: “a melhor defesa é o ataque.” Pegou sua arma, que por mais molhada que estivesse, ainda conseguia disparar tiros usando pólvora e o festim. E disparou duas vezes para o ar. Os índios gritaram “Caramuru! Caramuru!” – nome que significa “filho do trovão”. Outra conclusão que os historiadores tiram é que o significado vem de “moréia”, que também é Caramuru, já que moréia era um peixe da região e ele havia saído da água, justamente onde as moréias vivem. Mas o importante disto tudo, é que ele espantou os índios e este começaram a respeitá-lo. Só não poderiam tê-lo como chefe, já que Taparica ocupava o posto. E a idéia do cacique foi justamente preparar Diogo para ser seu sucessor e fez com que este escolhe-se uma de suas filhas para se casar. Entre Moema e Paraguassú, Caramuru escolheu a última, que foi batizada em Lisboa como Catarina Paraguassú Alves Correia. O nome de Catarina foi por causa da Rainha Catarina, que comandava o império luso e que ajudou Caramuru retornar à Portugal.
E tudo foi progredindo devido a comunicação gestual, foi perfeita entre o português e os nativos, sendo que Diogo aprendeu a falar a língua daqui e eles a de lá. Foi nascendo a nação brasileira, que além de patrício tenho laços familiares. E esta comunicação passou através dos tempos… Os Álvares Alves Correia geraram a família Alves Lanoya, depois a Pereira Alves, a Pereira da Costa e retornou a um novo ramo, os Pereira Correia. Estes todos, que foram se multiplicando desde a Freguesia de Ribeira, na comarca portuguesa de Guimarães. Todos herdeiros de Caramuru e do Duque de Lanoya, nascido em Flandres.
Os Correia Francfort
Um século depois, parte da família regressa ao Brasil. E surgem os Pereira Ferreira, Ferreira Correia e Pereira Correia. Famílias que foram se unindo, entreminhando os nossos laços e ficando sempre juntos estas três ramos da família desde aquele séc. XVII. Da Bahia, descem para Minas Gerais, depois vão para São Paulo, até se fixarem finalmente no estado de Paraná, ajudando no progresso daquele estado. Nossa história é passada de boca a boca… E muitos começaram a colocar no papel todos os registros de vida desta grande família, fazendo com que a genealogia fosse a comunicação através dos tempos, permanecendo viva a memória de muitos dos meus ascendentes.
No império, em pleno séc. XIX, a família se destaca brilhantemente na região, fazendo com que os 14 filhos do Comendador Manuel Francisco Ferreira Correia Junior tivessem sucesso na comunicação, na política, na agricultura e em muitos outros ramos. Alguns dos 14 hoje são nomes de ruas e grandes avenidas da cidade, como o Senador Correia e o Barão do Serro Azul (Idelfonso Pereira Correia). Maria Bárbara Correia, uma dos 14 também, casou-se com Agostinho Ermelino de Leão e tiveram vários filhos, sendo que um deles fundou a famosa empresa alimentícea Matte Leão. Já Eram notícia correntemente nos jornais de Curitiba, principalmente no periódico O MEZ. Quem muito escreveu também em jornais, foi o poeta paranaense Leôncio Correia, amigo de Olavo Bilac e filho de um dos 14.
Mas falemos um pouco sobre a ramo familiar do político Francisco Ferreira Correia, outro dos quatorze filhos; que morreu quando sua mulher esperava um bebê: a pequena menina Isabel. Isabel cresceu e um dia encontrou no Paraná um jovem jornalista chamado Maurice Louis Francfort. Maurice, que mais tarde se naturalizou brasileiro, era parisiense e vinha ao Brasil na esperança de novos empregos. Mais tarde, Maurício Francfort conseguiu com o governo francês a permissão para organizar um consulado no estado do Paraná, tornando-se um dos primeiros consules francês do Brasil, primeiro consul de Curitiba e do Paraná. Mas não podia deixar de lado a sua paixão pela comunicação e conseguiu ser representante da Agência Havas no Brasil, atual France Presse – esta, que antes de nascer a Reutters era tido como a mais forte agência de notícias do mundo.
Os dois casaram-se com aproximadamente 25 anos, em março de 1899. A atual Isabel Correia Francfort e seu esposo Maurício tiveram cinco filhos: Eugênia, Julio, Alberto, Luiza e Albertina. Dos cinco, Julio foi o que mais seguiu o pai no ramo jornalístico, Alberto por um tempo também os seguiram. Mas Julio Correia Francfort ajudou a tocar os serviços da Agência Havas, ao lado de Maurício.
Do jornalismo a televisão
Não posso me esquecer que a família já havia vindo para São Paulo quando surgiu a idéia de trazer a Agência Havas para o Brasil. E foi nesta cidade que os Francfort escolheram para viver, principalmente Julio, que em maio de 1934 casou-se com Adélia Freitas, filha de um rico português que havia feito fortuna comercializando objetos vidros, molduras e quadros em São Paulo. Foram morar no casarão do pai, na esquina da Rua Augusta com Avenida Paulista, onde hoje existe a galeria “Center 3”. Ali nasceu Luiz e Alzira, meu tio e minha mãe. Mais tarde mudaram-se para a a Rua Oscar Freire – número 2133 -, em pleno Sumaré. Bairro onde um dia, mal sabiam eles, seria fundado a televisão.
E próximos dos pais, Luiz e Alzira, foram herdando culturas, conhecimentos e paixões, sendo uma delas a comunicação. Numa véspera da festa de São João, mudaram-se para o Itaim Bibi, em 21 de junho de 1947. Alzira tinha sete anos e Luiz, o maior, já possuía dez.
Anos depois, em 1950, Julio descobriu uma novidade e levou os dois filhos, a mulher e Mário, um garoto muito amigo da família, para ver o que todos estavam comentando. Chegaram de carro na Rua Manduri – esquina da Rua Iguatemi, onde atualmente se encontra a Av. Faria Lima – , ali tinha a Padaria Tupinambá. Dentro dela, não tão longe da porta, num lugar alto, colocaram uma caixa grande, grossa e amarronzada, de onde saía imagens com sons. Isto tudo numa pequena tela, que nem era de cinema! Diante de todo aquele povo, ali acumulado defronte da padaria, aquelas crianças ficavam deslumbradas por aquela telinha, que exibia o telejornal Imagens do Dia, o primeiro telejornal do Brasil, da PRF-3 TV Tupi-Difusora. Nascia para eles, dentro daquela querida comunicação, uma nova paixão: a TELEVISÃO.
Artigo publicado originalmente no portal Sampa On Line – coluna “Comunicação”, de Elmo Francfort, em 02 de fevereiro de 2001 – http://www.sampaonline.com.br/colunas/elmo/coluna2001fev02.htm